Pensamentos à Pyrenaica
… assim antevejo o nosso futuro.
Quando eu for rica, mesmo muito rica, mandarei construir a passos largos a sede do nosso Clube UPB numa linda colina ! A casa, muito radical, será encomendada a uma arquitecta minhota e terá a colaboração de um engenheiro que não seja preguiçoso.
Do lado de fora, no jardim, irá ter uma nogueira, um pinheiro-manso, uma grande sequóia(!) e outras árvores nobres e arbustos, onde qualquer ave se poderá abrigar seja ela pombo ou rola, cotovia ou melro, pisco ou estorninho!
A casa ficará à beira de um riacho cheio de trutas, onde um pequeno dique susterá as suas águas e um pescador passará alguns momentos.
Naturalmente, precisarei de uma bússola para orientá-la para Sanábria, ou para Pitões das Júnias, ou talvez na direcção de Arga. Ao longe, ver-se-ão as penedas e as rocas, onde uma águia-real e um milhafre velarão pelos seus ninhos.
Atrás da casa, haverá um terreno bem fertilizado, com húmus, onde todos nós semearemos cenourinhas, cebolinhos e muitos girassóis, cobiçados por outros tantos caracóis. Não muito longe, crescerão livremente estevas, papoilas, e mais esta ou aquela flor, provavelmente algumas urtigas e algum mato.
Apesar de forte e resistente que nem uma coura, e até protegida por um anjo branco, a casa não será totalmente à prova de mau tempo, tempestades, nortadas ou outras ventanias, nem tão pouco de uma ou outra pedrada acidental… É bem provável que nela também entrem por vezes algumas formigas, bichos-do-mato, aranhas, doninhas e até alguma raposa matreira amiga da salta-pocinhas, à procura do lobo mau (ou das estepes) que ande por ali perdido…
À entrada da casa, mandarei uma pequena fonte colocar, para que qualquer andarilhus, coxo, escuteiro, ou mesmo um galga-montanhas verdadeiro, possa a sede ali matar. Ah! E uma lagoa, claro, para mergulhar os pés após as marchas lentas do calor do Verão.
No Outono, nesta casa-maravilha-da natureza, haverá sempre BOLO DE CHOCOLATE, bolo de noz, amoras, medronhos, castanhas, sandes de míscaros temperados com louro, azeitonas e outras iguarias, que um gentil almocreve fará o favor de transportar para o nosso regalo e regaço e a todos contentar.
Também no Inverno aí nos poderemos abrigar de alguma merugem (ou meruje) passageira e passar bons momentos à lareira, com o Kaiser aos nossos pés. Ou ao pescoço!
Uma guia atenciosa e uma senhora do monte, indicarão o melhor caminho para lá chegar, encosta acima, por caminhos de pé-posto, sendo bem possível que se cruzem os caminheiros com umas cabras ( pyrenaicas ou não) e uns tantos capreolus ou capréolos, como parece que também se pode dizer. Mais tarde pensaremos num teleférico …
Na sede do nosso Clube poderá entrar qualquer caminheiro, nem que seja ao pé-coxinho,( e mesmo que tenha o pé grande ou pé-de-chumbo ) desde que sacuda bem a lama e a gravilha das botas, no tapete de musgo, à entrada.
Poderá sentar-se numa almofadinha, cobrir-se com uma manta e tomar um chazinho de tília ou de barbas-de-milho. Para quem não gostar de chá e precisar de algo mais “consistente” e “caliente” terá uma garrafita de aguardente de zimbro e / ou medronho. Seguramente que poderá assistir a boas sessões de cinema ( tipo as curtas da Vila ) : documentários com mamutes, escaladas de sherpas no kanchenjunga, ou filmes com a Jana da selva de liana em liana.
Para registar os melhores momentos deste grande grupo de amigos, uma máquina fotográfica Nikon Coolpix estará sempre à disposição de quem dela precisar.
Quando eu for rica, muito rica mandarei construir a BOOT HOUSE e ela terá mesmo a forma de uma
Todos aqueles de quem me esqueci são também convidados para a inauguração e dias seguintes.
Diverti-me imenso neste bocadinho…
Beijinhos,
C. Pyrenaica