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UM PAR DE BOTAS

UM PAR DE BOTAS

QUANDO AS DORES PASSAM SÓ FICAM BOAS RECORDAÇÕES

Eram 9h00 da manhã quando em frente à farmácia da vila do Gerês o grupo de caminheiros se reuniu para a segunda caminhada de treino para a subida ao Toubkal. Depois do sucesso de participação do percurso Xertelo – Carris, desta vez reuniu-se um grupo mais humilde (oito caminheiros), mas cheio de vontade de atacar a montanha. As nuvens baixas junto à Vila já permitiam adivinhar que esta iria ser uma caminhada bem molhada, mas como sempre o que tem de ser tem muita força, pelo que pouco depois das 9h00 arrancámos.

 

Iniciámos a subida no início do trilho dos currais junto ao parque de campismo de Vidoeiro e aproveitámos a violenta subida até ao curral da lomba do Vidoeiro para o devido aquecimento muscular.

 

Lá chegados constatámos que a visibilidade já era quase nula. Empreendemos então a segunda subida do dia para o Borrageiro. O caminho, apesar da fraca visibilidade era fácil de seguir na medida em que bastava seguir o trilho, estranhamente perceptível para um trilho na serra do Gerês. Até atravessarmos o vale Teixeira a progressão foi fácil e tivemos a sorte de aí encontrarmos uma casa de pastor que nos permitiu fazer a primeira refeição do dia mesmo antes de se iniciar a primeira tromba de água com que formos sendo brindados durante o dia.

 

Avançámos então para a subida do vale do camalhão e se eu pensava que a primeira subida tinha sido difícil esta deixou o grupo bem mais ofegante, já que consistiu no equivalente a subir pelas escadas um prédio de 40 andares sem parar.

 

No cimo, já no sopé do borregeiro e com cerca de três horas de andamento começámos a fazer contas. As horas de luz solar já não eram muitas o que a juntar às más condições atmosféricas nos levaram a pensar ser difícil cumprir o percurso conforme originalmente delineado pelo Águia-real. Após alguma troca de ideias dos mais conhecedores daquelas paragens (Medronho, Águia a Real e Urso solitário) optámos por desistir de chegar ao Conho e atalhar para a Rocalva pelo Borrageiro.

 

Assim, e quando alguns julgavam já não ser possível subir mais fizemos o ataque ao borregeiro o que nem custou muito vendo o que já estava para trás. A fraca visibilidade dificultou a localização do trilho que partiria um pouco abaixo do cume do Borrageiro, problema que alguns metros de corta mato rapidamente resolveram. Avançamos ainda um pouco a medo, mas a chegada à Roca Negra permitiu perceber que estávamos no caminho certo. Daí até à Rocalva não demorámos muito e foi possível parar um pouco para almoçar e procurar refúgio na casa ali existente.

 

Nesta altura a ideia inicial de descermos novamente ao Vale Teixeira a corta-mato já tinha sido posta de parte porque a visibilidade era nula. Assim decidimos seguir até ao Arado onde encontraríamos estrada e de onde poderíamos seguir calmamente mesmo que anoitecesse.

 

Saímos da Rocalva de forças retemperadas, cerca das 15h00, e após alguma troca de ideias sobre o melhor caminho a seguir, decidimos usar um trilho já percorrido pelo UPB uns meses antes naquele mesmo local.

 

E o que se seguiu foi certamente um dos percursos mais bonitos que tive a oportunidade de fazer no Gerês. Assim e após subirmos mais um pouco fomos descendo lentamente para sul pela orla da montanha acompanhando o Rio Conho. Nas alturas em que o nevoeiro deixou foi possível descortinar o lindíssimo e imponente vale. Ao fim de cerca de uma hora de caminho encontrámos o estradão que nos levaria até à cascata do Arado. A partir daí foi só seguir até à Pedra Bela de onde após uma pequena paragem encetámos a descida até à Vila do Gerês onde conseguimos chegar pouco depois das 18h00 ainda com Luz.

 

Após as necessárias mudanças de roupa a tradicional sopa foi substituída por uma inexplicável vontade de ingerir papas de sarrabulho (não no meu caso que me fiquei pela sopa quente). Destaque ainda para a bem disposta empregada do estabelecimento que tentou não nos servir mas que acabou por se render às necessidade calóricas de um grupo esfomeado.

 

Passado já um dia sobre a aventura apesar das dores musculares ainda hoje se fazerem sentir a verdade é que um misto de saudade e frustração já povoam os meus pensamentos.

 

Saudade porque para quem gosta do Gerês este é um sentimento que só desaparece quando ali se volta, frustração porque adivinhei a beleza do percurso sem contudo a conseguir ver, embora as constantes descrições do Águia Real e do Urso solitário tenham permitido povoar a minha imaginação com algumas ideias que terão que esperar por melhores dias para serem concretizadas.

 

No final não pude de deixar recordar este trecho do livro “A esmeralda de Garameantes” do Escritor, filósofo, naturalista Theodore Monod, que retrata na perfeição, julgo, o sentimento de vazio do caminhante no fim da viagem:

 

“Assim que o cansaço das tuas caminhadas estiver esquecido começas a sentir falta das tuas rudes etapas, dos teus lábios gretados, dos teus sonos enroscado sob as estrelas. E na primeira oportunidade, tal como eu, voltas a partir…”

 

 

 

 

Duração da caminhada: Cerca de 9 horas

 

Distância percorrida: A doutrina divergiu sobre este assunto mas certamente mais de 20 kms.

 

Caminheiros participantes: Medronho, Águia-real, Ursus Solitarius, Passo Largo, Almocreve, Tourém e os caloiros Senhora do Vale e Saltitão

 

p.s.: Andamos cerca de 25km. Mapa cedido pelo Águia Real

Próxima CAMINHADA dia 3 de Março

medronho

publicado às 08:37

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