Dia 07 de Setembro a minha estreia como guia do UPB, ia finalmente poder partilhar aquilo que eu mais gosto com pessoas que partilham da mesma paixão, pessoas de alma leve, pessoas que de alguma forma iriam apreciar e ver com os seus próprios olhos o que de mais belo há no Gerês.
Depois de me encontrar com a minha querida Nogueira nas Cerdeirinhas, seguimos as duas para Fafião. Chegando lá fomos recebidas com o sorriso simpático e ternurento da Dona Zeza que nos informou de um caminheiro que seguia a nossa frente.
De seguida chegou o Grande Chefe Medronho e o Bicho do Mato mais tarde chegaram o Coura e o sorriso mais franco que conheço - a Tília.
Começamos a caminhada na hora certa quando toda a gente estava pronta, sem stress. Subimos até a Roca das Cabreiras ou Cabriteiras como lhe chamam os pastores e no topo, na nossa esquerda começamos o trilho de pé posto. Trilho muito parecido aos "trilhos Incas” quase sempre na mesma altitude, foi assim até ao Porto de Lage. No caminho a Nogueira mais parecia um Cabritinha de pedra em pedra, de rocha em rocha. O grande chefe Medronho deliciava-se com a beleza do trilho e com as silhuetas das montanhas que mudavam consoante íamos avançando. A Tília e o Coura recordavam a todos os instantes uma das investidas que fizeram naquela zona. E o nosso mais recente companheiro, o Bicho do Mato não largava a máquina fotográfica, fotografando tudo e todos como se aquelas paisagens fossem desaparecer e tínhamos de as imortalizar naquela momento… Meu querido vai lá quantas vezes quiseres, elas estarão sempre lá. Esperando passivamente pelo nosso regresso e de todas as vezes seremos recebidos de braços ou de corgas bem abertos…
Chegamos ao Porto de Lage num tempo recorde para caminheiros (2h00, para um pastor 1h30). Descansamos um pouquito, comemos algo e continuamos até as Portas do Abelheiro onde almoçamos e encontramos o "Tronco" que se junto aos Botistas e passou a ser o nosso caloiro achado no meio da serra. Recarregamos as baterias e trocamos algumas impressões com o novo caminheiro. O tempo estava a nosso favor lindíssimo mas confesso que até ai ainda não tinha sentido a bênção de S. Pedro. Mas ele não se fez rogar, ao atravessar o rio da Piguarreira numa fracção de segundos fui abençoada e baptizada… é que para alem da mão de S. Pedro nesta caminhada também tivemos a mão de S. João Baptista.
Começamos então a nossa ascensão. Sentia-me radiante de todas as vezes que via o prazer estampado no rosto dos meus companheiros, tudo era lindo… Poder ver o brilho nos olhos da Tília, de todas as vezes que ela olhava e via com os seus próprios olhos a famosa terra de “fadas e duendes” que ela tão bem descreveu. Terra de sonhos com os olhos bem abertos… Bom demais… sensação fantástica, esplêndida, maravilhosa mesmo… Cruzamos com um pastor já quase a chegar ao Alto de Palma, mais uma palavrinha, é sempre bom conversar e subimos até ao alto. Ali a sensação de liberdade é fora de série. Nogueira como eu te entendo… o cenário que se apresentou a nossa frente é de cortar a respiração, é magnifico… as Barragens da Caniçada, Salamonde e Vendas Novas estavam aos nossos pés e as aldeias de Pincães e Cabril acenavam como quem diz “ estamos aqui”… Nas nossas costas o Gerês: o Alto de Ovos, as Sombrosas, Arrocela, Cidadelhe, Borrageiro 2, Alto do Castanheiro e até o Fojo de Alcântara erguiam-se graciosamente, mais parecia que se levantavam para nos aplaudir ou para nos dar as boas vindas. Afinal aquele esforço foi bem merecido. Ficamos ali um bom tempinho a lanchar e apreciar a paisagem. Memorizei e registei cada momento cada gesto, cada sorriso, cada expressão de bem-estar que eu e os meus companheiros emanávamos. O estado de êxtase estava estampado nos nossos rostos. E dou graças a Deus, a Vida e as Montanhas por me proporcionarem momentos como estes…
Começamos a parte mais dolorosa, a descida... Para alguns dolorosa porque os joelhos iam-se ressentir para outros porque estávamos a chegar perto do fim da caminhada. Iniciamos a descida sempre pelo peitinho (expressão utilizada pelos pastores) do Alto de Palma a nossa esquerda estava a Corga do Gavião e no nosso lado direito o Rio de Escalheiro. Passamos pelo Cachadoiro e descemos até ao cimo da famosa cascata de Pincães. Passamos a Ponte sobre o rio com o mesmo nome e continuamos. A Tília, a Nogueira, o Tronco e eu ainda paramos para apreciar o Vale das Traves, lindíssimo, muito verde. Até que chegamos na nossa recta final e entramos num pinhal mesmo por baixo da Roca do Touro onde paramos para nos refrescar.
Chegamos a Fafião eram 18h20 na hora que eu tinha previsto chegar. Chegamos sãos e salvos com mais um dever cumprido. Descansamos no Bar da Dona Zeza onde convivemos só mais um pouquinho antes de regressarmos a casa.
Quero agradecer ao Medronho pela oportunidade que ele me deu de poder partilhar um pouco de mim, e claro Chefe podes sempre contar comigo para Guiar o UPB é só dizer e o prazer será todo meu. Quero agradecer a Nogueira pelo carinho que será eternamente reconhecido, a Tília pela simpatia e alegria de viver que a serra tanto gosta.
Quero agradecer ao Bicho do Mato pela serenidade e paz de espírito que ele consegue transmitir, muito bom isso, ao Coura pela boa disposição e sobretudo pelas promessas que ele fez… e claro a companhia discreta mas muito apreciada do nosso caloiro, o Tronco. Para mim foi um privilégio ter caminhado na vossa companhia.
white angel